17/12/2007

Antinomia de mim


Delineio semânticas que expressem intencionalidades nos escritos que faço. São negativas, melancólicas, expoentes daquilo que sou. Embora talvez nem seja. De fato, crio mundos, percepções, confissões que não me traduzem ou sim. Não são auto-retratos ou são.

Nessa contradição permanente, esboço dicotomia, antinomia de mim. E por ser antagônica é que me faço ou não. Só existo na duplicidade proeminente que improvisa um mosaico, espelho de meu reflexo. Sou fractal. Pedaços que moldam esse todo compreendido somente enquanto tal.

Nacos de anseios, quereres, desilusões, alegrias e esse tudo-nada que me perfaz, complementam minha concretude. Substância errante perdida nos corpos fluídos das volições e angústias aconchegadas no colo escolhido para alentar a intensa profusão de ser.

Essas são expressões que germinam em momentos singulares, palavras jorradas da insana penúria de ambicionar e, muitas vezes, não poder objetivar subjetividades que, para outros, acabam não tendo significado.

Exponho-me a escrever porque nas letras encontro a matéria prima das caricaturas de alguém tão solta no mundo, que precisa se testar. E lego essas divagações ao efêmero ato de fazer daquilo que não é o que possa ser; do que possa ser o que não seja. Escrevo para transbordar esse eu dialético-dialógico transcendente e inesgotável. Sou não sendo.





Imagem: Teresa Zafon