29/11/2007

O que é


Era pra ser vento efêmero que tinge o rosto de tempos vindouros ou lembrança passageira se acomodando em istmos de ontem e depois. Nada além de rajada lunar a clarear as noites boêmias poderia ser. Nem mesmo fagulha solar incendiando um lindo sorriso na face inóspita. Devia ser breve como chuva equatorial, fugaz frente fria que toma conta dos trópicos vez por outra.

Acabou sendo verão na metade dela que era inverno e refrescou a parte coruscante que a levava por caminhos desconhecidos em busca de algo que nem se sabe. Criou raízes fundas, fecundas e todos os dias brotam pétalas de quereres, punhados de sonhos, rios de ilusões.

Folhas de esperança germinam cotidianamente desde então. São alimentadas pelos riachos de todo dia que regam suas raízes de amanhã.





Imagem: Kharlamov Sergey

09/11/2007

Turbilhão


Não quero saber desses redemoinhos que agitam as noites trazidas no peito. Noites? Mas é dia! Não. Breu meu interior. Quero óculos escuros com proteção UVA/UVB, para impedir que a radiação emitida pela angústia corroa essas retinas que ainda extrapolam o vazio que carrego. Os cílios precisam ser bem cuidados -varrem a poeira de tudo que encontro pela frente. Droga de pensamentos confusos! Que texto é esse? Ah! Estou tentando falar do turbilhão que sacoleja as entranhas, cerração da alma. É dia! Fico pior durante o dia. A claridade ofusca as pestanas carcomidas pelas traças que se acumularam ao longo de minha cegueira e as pupilas que tanto protejo, mofadas pela umidade das lágrimas constantes escorrendo no leito de meus ais. Hoje bateu vontade de olhar pra trás, cruzar outras veredas. Anseio de escancarar janelas, vislumbrar novos horizontes. Madrugada! Nas noites insones divago alucinada, querendo fazer da vida passada o que não mais pode ser. Vou esperar a aurora. Quem sabe, ao acordar desse devaneio real, possa sentir o cheiro do vento trazendo boas novas. Talvez o calor da estrela tenha gosto de novos abraços. Meus braços dando voltas em mim. Fungos morrendo e bactérias vencidas pelo antídoto que hei de encontrar. Se meus óculos com proteção UVA/UVB permitirem ver o sol raiar.







Imagem: Mariah