Nunca mais! Entendeu?
Já disse que meus olhos não alcançam mais tuas retinas; que, surda, ignoro o eco das letras que chegam por um carteiro qualquer e meu tato se excita em sentir o prazer mórbido de triturar tuas palavras.
Eu avisei que amor não se alimenta de rabiscos ou de suspiros. Aliás, não sei do que se nutri e nem me interessa. O que entendo mesmo é que amor existe na cotidianidade das horas, nos interstícios da vida. Não tem conceito, definição. Vivi-se simplesmente. E mais, alertei que o fogo da nossa paixão reluzia por conta das cinzas, ainda quentes, que éramos quando nos encontramos.
Mas nada foi suficiente. Não ouviste as linhas, entrelinhas, frases e palavras soltas por essa boca que ansiava por teu toque, nem o silêncio gritante que se mostrava toda vez que meu corpo se delineava ao teu.
Sinto muito. Não me venha pedir pra esperar. O tempo é traiçoeiro e as noites, intercaladas aos dias, não me permitem tamanha sensatez. Além disso, sempre fui espaçosa, solta e tu sabias. A paixão que nos unia era resquício de nossas cinzas, eu já era pó quando chegaste.
Ora, poeira é coisa errante, dispersa. Alastra-se por todos os cantos, mas nunca deixa de ser – só se mistura às comparsas que vai se deparando nessas viagens incessantes.
Em meu peito não tem mais lugar pra ti. É um novo peito, nova carcaça. A veste que te cabia, nem uso mais. E se tenho vontade de rasgar tuas cartas, é porque não encontro nelas vestígios de ti nas longas declarações que sussurram. Essa que te responde, não é mais aquela que deixaste. Tu nem existes pra mim.
Adeus.
Imagem: Sue Anna Joe